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100 dias de Lula: Ibovespa tem pior desempenho em um início de mandato desde 1995

As tensões com o mercado financeiro e o Banco Central marcaram os primeiros cem dias de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nem mesmo a proposta de novas regras fiscais, avaliadas como positivas por parte do mercado, conseguiu ofuscar os ataques à política monetária do BC e às metas de inflação.

Os embates foram sentidos pelo mercado financeiro. Um levantamento do TradeMap mostrou que o desempenho da Bolsa do Brasil (B3) nos primeiros cem dias do terceiro mandato do petista foi o pior desde o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995. O Ibovespa recuou 8,12% de janeiro até a quinta-feira, 06/04. No primeiro ano de FHC, o índice despencou 28,48%. O melhor desempenho aconteceu no 2º mandato de FHC com valorização de 66,98% seguido pelos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro com 9,18%.

Para o estrategista chefe da Infinity, Jason Vieira, a culpa para os cem primeiros dias conturbados foram do próprio governo, que não conseguiu fazer as suas próprias propostas andarem.

“Os cem primeiros dias andaram de lado porque ficou tudo na expectativa. A primeira semana até foi positiva, com o mercado achando que as coisas iriam avançar. Dali em diante, o governo começou a emitir sinais muito ruins – como um retrocesso de reformas. Depois desistiu de parte delas e acabou se voltando efetivamente ao arcabouço fiscal. Além disso, as últimas semanas ficaram entre as questões bancárias internacionais, afetando parte do mercado”.

IBOVESPA – 100 PRIMEIROS DIAS DE GOVERNO

Fonte: TradeMap

O primeiro conflito entre Lula e o mercado aconteceu antes mesmo de começar o governo. Durante a transição, o presidente eleito fez críticas à estabilidade fiscal e levou a bolsa para o negativo em menos 3% e o dólar subiu mais de 4%. “O mercado fica nervoso à toa”, disse o petista na época.

Em fevereiro, em uma entrevista à CNN Brasil, Lula disse: “eu não estou governando para o mercado. Eu sei da existência do mercado, sei o que o mercado faz para ganhar dinheiro, mas eu estou governando para o povo brasileiro”. Na mesma conversa emendou: “como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central, que eu pouco conheço, eu vi ele uma vez”.

Apesar dos conflitos, o estrategista chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, acredita em uma recuperação da bolsa brasileira ainda neste ano diante da proposta de arcabouço fiscal já apresentada e das discussões em torno da reforma tributária.

“Ainda temos um patamar de 120 mil pontos para o final do ano diante de uma narrativa mais construtiva sobre a reforma fiscal e a tributária. Porque já se sabe como vai se trabalhar nos próximos anos”, explica.

Alterações na meta de inflação

No mesmo mês, diante das declarações do presidente, rumores sobre alterações na meta de inflação chegaram ao mercado. O B3 Bora Investir chegou a noticiar o fato com a reportagem: “Entenda a discussão em torno de uma possível elevação das metas de inflação”.

Na última quinta-feira, o presidente voltou a falar de mudanças na meta. “Se a meta está errada, muda-se a meta. (…) É humanamente inexplicável a taxa de juros de 13%, juro real de 8,5%. Não é possível a economia funcionar”, disse Lula.

As respostas dos agentes financeiros vieram no aumento das expectativas de inflação. Nesta segunda-feira, por exemplo, o boletim Focus voltou a mostrar uma elevação das projeções de inflação para este ano, 2024 e 2025.

Pelo lado do Banco Central, a manutenção dos juros em 13,75% e o tom crítico nos comunicados e atas foram interpretados como respostas tanto ao governo, quanto ao aumento das estimativas de inflação. No último documento, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que a redução dos juros exige “serenidade e paciência”. O BC disse também que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”, caso a inflação não caia.

“A queda de juros vai acontecer com uma redução de 0,25 ponto percentual em agosto e 0,5 ponto percentual em setembro, novembro, dezembro. Pode ser que seja antecipada, pois o mercado de crédito continuar dando problemas”, afirma Gustavo Cruz.

Novo arcabouço fiscal

Os cem dias do governo Lula também foram marcados pela apresentação do novo arcabouço fiscal em março e o protagonismo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Pelo lado do controle das despesas, que só podem crescer entre 0,6% e 2,5% a depender da arrecadação, a proposta foi vista como positiva. No entanto, as metas de superávit primário bastante agressivas e o foco na arrecadação para tornar as regras factíveis levantaram dúvidas no mercado.

Apesar de todas as críticas deferidas por Lula a sua atuação, o presidente do Banco Central avaliou a proposta como “superpositiva. Roberto Campos Neto também reconheceu o esforço do ministro da Fazenda, mas alertou para como será o processo de aprovação no Congresso.  

“O arcabouço carece de uma série bastante extensiva de detalhes, além de ter premissas relativamente otimistas demais para o atual cenário. A questão é que o governo precisa parar de atrapalhar. Em relação ao consumo, hoje não há mais instrumentos disponíveis para fazer estímulos ao cosumo. Portanto, agora depende do crescimento econômico e não de coisas que o governo possa fazer”, conclui Jason Vieira.

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