2025 foi um ano de intensa volatilidade nos mercados globais. Foram guerras comerciais, conflitos armados, o shutdown mais longo do governo norte-americano, incertezas sobre a condução da política monetária nas maiores economias do mundo, e temores quanto a uma bolha no setor de tecnologia e inteligência artificial. O que esperar então para seus investimentos internacionais em 2026? E, talvez mais importante: onde estão as oportunidades na renda variável internacional?
Segundo relatório do BTG sobre onde investir no ano que vem, 2025 foi um ponto de inflexão no ciclo de lucros globais. Após quase dois anos de expansão concentrada em poucas empresas de tecnologia, o mercado começa a se reequilibrar. Essa normalização é marcada por três movimentos:
Desaceleração do crescimento entre as empresas líderes de capital intensivo;
Reprecificação do custo de capital, com impacto sobre valuations;
Recomposição parcial do peso dos setores tradicionais nos índices globais.
Apesar disso, a assimetria estrutural permanece: empresas ligadas à inteligência artificial, energia e infraestrutura digital continuam capturando a maior parte da geração de valor. Ou seja, a tecnologia segue dominante, mas com um cenário mais seletivo.
Estados Unidos: crescimento com ajustes
Após um ano de escalada da incerteza global, 2025 chega ao fim com os principais acordos bilaterais e multilaterais já consolidados, o que abre espaço para um “cenário mais previsível e uma perspectiva positiva para o início de 2026”, diz o BTG.
Entre os principais fatores a justificar o otimismo, o banco cita o impacto da redução de juros pelo Federal Reserve. Mesmo que existam dúvidas sobre a magnitude dos cortes à frente, os cortes feitos até agora devem ter seus efeitos na economia, e podem “aliviar parte das restrições sobre o consumo das famílias e o investimento corporativo”, diz o relatório. Além do impacto sobre o consumo, essa redução do custo de capital pode acelerar ainda mais os investimentos em inteligência artificial.
Já a XP , em seu guia de investimentos, reforça que 2026 será um ano de consolidação de tendências, com atenção especial para:
Inteligência Artificial: para os analistas, a partir do ano que vem, o mercado conseguirá avaliar de forma mais profunda quais os impactos da IA e das big techs e quais transformações econômicas e sociais serão antecipadas por essa onda de inovação, com atenção especial para o mercado de trabalho;
Inflação das tarifas: o enigma de para onde foi a inflação das tarifas deverá ficar mais claro, e o efeito fiscal das medidas aprovadas pelo governo americano em 2025 se farão sentir pelo consumidor
Flexibilização regulatória nos EUA: será possível, a partir do ano que vem, entender como as mudanças regulatórias influenciam a dinâmica setorial americana.
Como reflexo desse cenário, a corretora elevou a recomendação de alocação nos EUA para neutra, apoiada nos impulsos de IA e afrouxamento monetário. Por outro lado, a corretora destaca que as incertezas persistem: tanto em relação à condução da política econômica pelo governo quanto à inteligência artificial e à saúde financeira do consumidor americano.
A Mirabaud acrescenta um ponto crucial: os valuations seguem elevados. “No entanto, os contínuos cortes nas taxas de juros pelo Fed, a estabilização de seu balanço patrimonial e o posicionamento dos investidores, que não mostra sinais de condições de sobrecompra, são fatores tranquilizadores”, diz relatório do family office. Por outro lado, a casa diz que o potencial para novos ganhos de valuation parece limitado.
“De acordo com várias estimativas, a IA poderia gerar um aumento de 1% na produtividade do trabalho, dependendo de sua taxa de adoção. A exposição ao setor de tecnologia norte-americano continua, portanto, essencial, apesar dos valuations elevados”, aponta o texto da Mirabaud.
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China: resiliência e inovação
“Na China, a economia manteve um ritmo de crescimento surpreendentemente resiliente em meio a um cenário global de incerteza e moderação no comércio internacional – tradicional motor de seu crescimento”, diz o relatório do BTG, que pontua que o desempenho foi sustentado por estímulos governamentais.
“Para 2026, o governo deverá manter o foco em um crescimento de maior qualidade, priorizando a modernização industrial e a autossuficiência tecnológica”, prossegue o documento.
Em seu relatório, a XP sugere alocação acima do neutro no mercado chinês. A corretora cita “oportunidades nos setores ligados à IA, diante de forte ciclo de investimentos e inovação na região, amparado por incentivos governamentais na busca independência de cadeias de valor ocidentais”
Além disso, após um ano de disputa comercial entre China e Estados Unidos, a trégua entre as duas potências reduz as incertezas – apesar de notícias sobre relacionamento entre os países ainda ser fonte de volatilidade.
Mercados emergentes: oportunidades seletivas
Para os mercados emergentes, a XP tem recomendação acima do neutro. “Vemos que o cenário segue construtivo, à medida que as tendências macroeconômicas e as entradas de capital continuam favoráveis, enquanto o mercado acompanhará de perto eleições na América Latina, especialmente no Brasil”, diz o relatório.
Em paralelo, a perspectiva de continuidade do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e um dólar mais fraco abrem espaço para maior afrouxamento monetário e crescimento mais forte em vários mercados.
Já o BTG aponta que os países emergentes apresentam oportunidades seletivas. “A Índia desponta como o caso estrutural mais forte, combinando crescimento robusto do PIB (~6,5%), digitalização acelerada e expansão de consumo formalizado, apesar do valuation menos atrativo; já a América Latina, por sua vez, continua oferecendo valor relativo em utilities, energia e setor financeiro, mas com maior volatilidade política e cambial”.
Zona do Euro: recuperação gradual
O relatório do BTG destaca que o Banco Central Europeu “obteve êxito na condução do processo de soft landing, levando a inflação de volta à meta de 2% sem provocar desaceleração significativa da atividade econômica”. Para 2026, a incerteza é sobre se o ciclo de afrouxamento vai persistir.
A Mirabaud projeta crescimento de lucros em dois dígitos para as empresas europeias, após um 2025 de alta modesta nos resultados. Os destaques ficam para setores industriais e empresas de pequena e média capitalização.