O mês de junho é o período do ano em que a colheita do milho acontece. Não por acaso, também é quando ele é mais consumido, graças às festas juninas no país. Não que ele tenha menos importância durante o resto do ano – afinal, o cereal é um dos alimentos mais típicos da culinária brasileira. Mas é no final do outono que o milho brasileiro mostra a que veio e, a cada ano, quebra os recordes de produtividade e exportação.
Para 2023, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra atual de milho atinja uma produção de 125,7 milhões de toneladas. O valor é 11,1% maior que o volume colhido em 2022, ou 12,6 milhões de toneladas a mais. “As condições climáticas têm sido favoráveis para o desenvolvimento da cultura até o momento”, diz o gerente de acompanhamento de safras da Conab, Fabiano Vasconcellos.
A colheita de 2022 também superou a de 2021, que ultrapassou a de 2020. A expansão constante da produtividade do milho faz do cereal um dos motores do agronegócio nacional e certificou o Brasil como o segundo maior exportador desta commodity no mundo – logo atrás dos Estados Unidos. Entre janeiro e maio deste ano, as vendas do milho brasileiro para o exterior já movimentaram US$ 3,1 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
As vendas da commoditie para o estrangeiro já aumentaram 110,2%, se comparadas com o ano passado. No total, as exportações somam 10,6 milhões de toneladas.
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A história do milho nas Américas
O milho é um alimento multifacetado. Originário da América Central, onde foi domesticado há cerca de 10 mil anos, o milho era cultivado pelas antigas civilizações mesoamericanas, como os maias e os astecas. Essas sociedades desenvolveram técnicas avançadas de cultivo e deram à planta a carinha que tem hoje.
Levado para a Europa no século XV, após as Grandes Navegações, o milho se adaptou às diferentes condições climáticas e se espalhou pelo mundo. Passou por uma série de transformações ao longo dos séculos, com melhorias genéticas adaptadas a diferentes climas e necessidades agrícolas. O resultado foi a grande diversidade de tipos de milho que conhecemos hoje – cerca de 150 espécies, com grande diversidade de cor, formato de grãos e sabor.
Aqui no Brasil, o cereal já fazia parte da dieta dos indígenas antes da chegada dos portugueses. Depois, com o contato entre as duas culturas, os europeus integraram o alimento às suas dietas. Os africanos escravizados também passaram a consumir o milho e o resultado foi a variedade de pratos típicos que o envolvem: pamonha, curau, angu, polenta, canjica, etc.
Muitos destes alimentos são sinônimos das festas juninas. Como um todo, estas festividades devem mobilizar mais de 26,2 milhões de pessoas por todo o Brasil e arrecadar cerca de R$ 6 bilhões, segundo o Ministério do Turismo. O valor é 76% maior do que o registrado no ano passado, quando foram gerados mais de R$ 3,4 bilhões.
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Em que a produção de milho é usada?
Ainda assim, a principal aplicação desta commodity não é na alimentação. Pelo menos, não a nossa. Tanto no Brasil quanto no mundo, o cereal é destinado, principalmente, à ração animal. Segundo Lucílio Alves, pesquisador da área de milho da Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ da Universidade de São Paulo (Esalq/Usp), a estimativa é que 64% da commodity produzido no mundo seja destinado à engorda de animais para abate, como aves e suínos.
Os outros 36% da demanda total são para uso industrial, que inclui a alimentação humana. Ele é a base de diversos produtos alimentícios, como cereais matinais, pipoca, fubá, farinha de milho, amido de milho, óleo de milho, xarope de milho e até mesmo em bebidas alcoólicas, como a cerveja. Também é usado na produção de bebidas destiladas, como o whisky bourbon.
Além disso, é usado na produção de itens que passam bem longe dos nossos pratos. Por exemplo: 10% da produção de etanol brasileira vem do milho, diz Alves. Outras aplicações são a produção de embalagens, cosméticos, tintas, baterias, medicamentos e produtos de limpeza.
O amido de milho ainda pode ser utilizado na produção de plásticos biodegradáveis, uma alternativa mais sustentável aos plásticos convencionais.
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A importância do milho na economia mundial
Quando se fala de milho, estamos falando da maior cultura do mundo. São cerca de 1,2 bilhão de toneladas produzidas anualmente em todos os continentes com uma distribuição homogênea de compradores. “Da parte da demanda, todo mundo compra e ninguém tem um destaque”, diz Alves. Os países exportadores, entretanto, são poucos.
As lideranças no fornecimento de milho são, em primeiro lugar, os EUA, seguidos pelo Brasil, Argentina e Ucrânia. O especialista explica que os maiores produtores do cereal também são os maiores consumidores: somente 16% da produção do mundo é transacionada, enquanto o restante fica no mercado interno.
Já é consensual que o Brasil deva se tornar o principal exportador de milho do mundo nos próximos anos. “Já somos destaques internacionais, e nenhum dos concorrentes tem capacidade de expansão produtiva”, explica Alves.
Por aqui, o milho só perde para a soja em número de exportações do setor agropecuário. Segundo o MDIC, os maiores clientes do cereal vindo do Brasil são o Japão, com 16% de participação nas compras, a China e a Coréia do Sul, com 11% cada, o Vietnã, com 8,7%, e o Irã, com 7,9%.
“Com a Guerra na Ucrânia, que dificultou suas transações, e as quedas de produtividade recentes dos EUA e da Argentina, o Brasil ganhou muito espaço e pode ganhar ainda mais”, diz o pesquisador.
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