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55 anos de Ibovespa: o índice de mercado que conta nossa história guilhermenaldis

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Mesmo quem não investe sabe quem ele é. Todos os dias, o Ibovespa B3 sobe, desce e gera notícias. O índice é o principal indicador do mercado de capitais do Brasil e uma importante variável da economia brasileira. Em 2023, ele completa 55 anos e celebra ter uma metodologia crítica e, sobretudo, histórica. Não só como testemunha da atividade da Bolsa.

Criado em 1967 para ser calculado, pela primeira vez, em 1968, o índice nunca mais parou de ser computado. Na época de sua elaboração, havia algo de inovador no cálculo: técnica e credibilidade. Com o passar dos anos, o regime político do Brasil se alterou. Presidentes entraram e saíram. Empresas prosperaram e outras faliram. O Mercado se expandiu. E o Ibovespa B3 refletiu tudo aquilo que fez preço na política, na economia e no ambiente de negócios do Brasil.

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Conhecido como Ibov, para os mais íntimos, o índice é uma carteira teórica que reúne as ações das empresas de capital aberto mais líquidas e negociadas da Bolsa de Valores do Brasil, a B3. Para entrar nele, é preciso cumprir uma série de exigências e demonstrar uma performance representativa durante os pregões de negociação da Bolsa. Os papéis das companhias que atenderem aos requisitos do Ibov ganham uma espécie de selo de qualidade e passam a compor um dos maiores índices de ações do mundo.

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O Ibovespa B3 reúne as companhias mais negociadas da B3. Neste tipo de conta, é atribuído um peso a cada papel, que corresponde à sua representatividade nos negócios da bolsa. Funciona assim: as ações mais negociadas têm mais influência sobre o valor do índice do que aquelas menos expressivas.

“É por isso que os principais eventos econômicos, políticos e setoriais se refletem no índice, fazendo com que ele seja parâmetro de rentabilidade para investidores não só no Brasil como no mundo todo”, afirma Henio Scheidt, gerente de Índices da B3.

Walter Cestari, de 85 anos, foi um dos formuladores do índice. Ex-diretor da bolsa e professor aposentado de Mercado de Capitais, ele explica que existem três fatores centrais para uma ação ser captada, ou não, pelo Ibovespa. Eles são:

Negociabilidade: o número de negócios que uma empresa teve durante quatro meses em relação ao número total de negócios de todas as ações de bolsa

Volume: o volume da empresa, em reais, em relação ao volume do restante das ações (também em reais)

Presença em pregão: a frequência com que determinada ação atende aos outros dois critérios

A média dos dois primeiros fatores demonstra a liquidez de uma ativo. A conta faz média entre a negociabilidade e o volume de negociações. Depois, o valor é ponderado pela presença da ação no pregão. 

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Cestaria explica que “não basta que haja muitos negócios pequeninos. Precisam haver muitos negócios volumosos”. E prossegue: “Não basta que os negócios sejam muitos, volumosos, mas de vez em quando. Eles precisam ser sempre”.

O veterano do mercado conta que o cálculo do Ibovespa B3 se baseou nas contas feitas para calcular o IBV, o índice da antiga Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O indicador antigo considerava as ações com maior negociabilidade e um comitê de avaliadores indicava quais entrariam, ou não, para a contagem. O modelo do IBV era parecido com o adotado em outras bolsas do mundo, como o Dow Jones e o S&P 500, da Bolsa de Nova York, nos EUA.

A diferença, entretanto, é que o Ibovespa B3 é mais matemático. Em vez de eleger ações baseadas na escolha de um grupo de pessoas, o índice se baseia em uma conta. Quem passar por ela, está dentro. Senão, está fora. “Por isso o cálculo do Ibovespa é considerado técnico e consolidado: porque ele reflete o verdadeiro propósito da Bolsa – gerar liquidez no mercado”, diz Cestari. 

Como o Ibovespa B3 surgiu?

No final de 1964, meses após a implantação do regime militar no Brasil, o presidente marechal Castelo Branco sancionou a lei nº 4.595. A medida tinha por objetivo criar “Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias”. Através da lei, alguns órgãos foram extintos e outros foram criados. Parte deles mudou de atribuição e o sistema financeiro do país foi, drasticamente, mudado.

“A Bolsa é centenária, mas o Mercado, como o conhecemos hoje, passou a existir após 1964, com a reforma bancária feita durante a ditadura”, afirma Cestari. “Até então, os corretores da Bolsa eram nomeados pelos governos estaduais. Depois da reforma de 1964, foram criadas as corretoras de valores, privadas, e seus donos precisavam adquirir títulos patrimoniais da bolsa”, conta.

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Com a mudança no sistema financeiro, a bolsa de valores, que na época se chamava Bovespa, passou a assumir maior centralidade nas negociações de ativos financeiros do país. A fim de estimular a atuação da Bolsa e seu propósito de gerar riqueza, o Governo Federal criou, em 1967, o decreto-lei n° 157. Era um incentivo fiscal que descontava 10% no Imposto de Renda dos contribuintes que investissem em ações. 

As pessoas entraram na Bolsa aos montes, mesmo que não soubessem, ao certo, o que isso significava. Foi durante a expansão sintética da Bovespa que a necessidade de acompanhar o mercado ficou mais evidente. E, em 1967, o Ibovespa B3 passou a ser elaborado por diretores da bolsa. No ano seguinte, passou a ser computado. E não parou desde então. 

“Ninguém sabia o que eram ações, mas todo mundo começou a comprar. O mercado disparou pelos anos seguintes, até que a bolsa estourou em 1971”, recorda Cestari. O Ibovespa, entretanto, perdurou.

O que mais é considerado no Ibovespa B3?

O Ibovespa B3 teve sua metodologia atualizada para acompanhar a evolução do mercado. Além do cálculo do índice, outros fatores passaram a fazer parte dos critérios de seleção para as empresas. 

A grande mudança, que incluiu uma exigência nova, aconteceu em 2013. Naquele ano, foi determinado que o papel da companhia em questão não poderia ser uma penny stock – nome dado às ações que valem menos de R$ 1,00.

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Também é necessário que a empresa não esteja em recuperação judicial para integrar a carteira. Se, por acaso, ela entrar no processo de RJ, a B3 a excluirá do Ibovespa B3. 

Para manter o índice atualizado e refletindo, de fato, a situação do mercado nacional, a B3 atualiza sua carteira periodicamente. A cada quatro meses, as ações da carteira do Ibovespa B3 são reavaliadas conforme os critérios do índice. E aí, pode ser que novas empresas entrem. Ou, caso o papel tenha deixado de cumprir os critérios estabelecidos na metodologia, ele pode ser excluído da composição.

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Este processo acontece desde a criação do Ibovespa B3. A cada quatro meses, novas ações entram e saem do índice, refletindo o dinamismo do mercado. Não há registros oficiais da primeira carteira, que vigorou de janeiro a abril de 1968. A composição mais antiga é a segunda – que foi de maio a setembro daquele ano.

Ainda assim, Cestari diz lembrar dos papéis que estavam na listagem na época da primeira edição da carteira oficial do Ibovespa B3. Veja:

Aços Villares, Alpargatas, Antartica, Banespa, Banco Itaú, Mappin, Cimento Itaú, Docas de Santos, Duratex, Indústria Villares, Lojas Americanas, Fábrica de Brinquedos Estela, Melhoramentos Papéis de São Paulo, Santista, Cia. Paulista de Força e Luz, Souza Cruz e Vale do Rio Doce compunham a carteira teórica do Ibovespa B3, segundo um de seus fundadores

Hoje, a carteira do Ibovespa B3 conta com 86 ativos e é uma das maiores da série histórica. O recorde foi na década de 80, quando 139 ações estavam listados. Naquela época, os critérios de elegibilidade eram diferentes dos atuais – por isso tamanho.

A história em números 

Entre janeiro de 1968 e janeiro de 2023, o Ibovespa B3 apresentou 252 meses com variação mensal negativa e 408 meses com variação mensal positiva.

O recorde, em pontos, do índice foi em 07/06 de 2021 – quando o Ibovespa B3 bateu 130.776 pontos. Mas, se olhamos o Ibovespa B3 ajustado pelo IPCA, a máxima diária foi no dia 20/05 de 2008, quando atingiu 175.388 pontos.

A maior queda da história do índice, de 22,20%, aconteceu em 21/03 de 1990, quando o Plano Collor foi anunciado. Naquela época, o Brasil convivia com uma inflação galopante. A proposta do então presidente, Fernando Collor, pareceu insuficiente para contornar o problema, aos olhos do mercado.

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Cerca de um ano depois, outro plano contra inflacionário faria a Bolsa atingir mais um recorde. Dessa vez, foi a maior alta diária, de mais de 36%. Foi o início do Plano Collor 2, em quatro de fevereiro de 1991. O novo projeto, que além de propor um freio ao aumento dos preços, parecia mais “viável” para os agentes econômicos e também iniciou a abertura da bolsa aos investidores estrangeiros. A tentativa foi frustrada, mas a reação do mercado ficou registrada na história da bolsa até hoje.

Estes anos foram, também, os períodos de maior queda e alta do Ibovespa B3, respectivamente. Em 1990, o índice acumulou queda de 74,11%. Já em 1991, o indicador registrou ganhos de 316,38%.

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